segunda-feira, 8 de junho de 2009

Mais para o escuro

As lembranças me chegam mais para o escuro, com diversas sombras e poucas claridades. Da janela alta vejo a chuva que borra o meu rosto seco. Quando passo os dedos pelo vidro, imagino que, se uma só gota me molhasse, poderia encolher e sumir.
Desde que cheguei, quando o taxi me deixou em frente ao portão de ferro, tenho sentido uma pressão na cabeça. Todas essas pessoas se trombando pelo pátio, que na verdade é uma quadra de basquete, com malas nas mãos, algumas se cumprimentando efusivamente, outras apenas olhando o movimento. Não sei se vou gostar, vou fazer um esforço. Lembrei, desanimado, uma frase de um índio centro-americano “as coisas da vida devem fluir sem esforço”.
Às quatro horas eu tenho que estar em algum lugar no outro prédio, conectado a este em L. Que horas são? Posso ver o pátio dois andares abaixo. É só atravessá-lo, entrar no outro prédio e subir as escadas. Qual andar, qual sala, não sei. Mas os horários das aulas estão afixados nas paredes. Uma senhora de óculos pretos, prestativamente postada detrás de um balcão, sorriu pra mim quando entrei neste edifício. Ela deve saber de tudo. Deveria descer e perguntar a ela.
Lá fora é, parece óbvio, onde eu não estou. Digo isso, porque, não obstante, aqui dentro sinto não pertencer, não dever estar, não querer ficar. Mas não consegui sair até agora. Como rosto borrado e as mãos frias do contato com a janela, tentei chorar. Desisti, a qualquer hora pode chegar alguém aqui.