terça-feira, 17 de agosto de 2010

Eu

Eu, somente eu, e a injustiça, vamos caminhando entre brigas e carícias pelas sendas profundas do viver. Quanto mais a rechaço, mas a tenho no laço, mas a tenho em mim, mais a engulo com engulho. Um sem mastigar anfíbio, entre o seco e o molhado a me espinhar a espinha. Um peso que me dobra a coluna a estirar minha covardia. Um doce que amarga a boca e me coloca em saia justa. Quem sou eu perante o mundo? E que mundo é esse diante de mim?

Eu, somente eu, perante a vida. Tenho pena dos anos que deixei escorregar pelos meus dedos, e acho que não vivi. Outros que me orgulho de ter vivido. Cada minuto de cada hora de cada dia de cada mês. Cadê o tempo que passou? E quem é esse Tempo imenso que tenho diante de mim? Quem és Tu que me desafia a desfrutá-lo sem poder tocá-lo? Deus sem autoridade, pois não fui eu quem o criou.

Eu, somente eu, e o amor. Fruta doce e macia. Querência simples, mas tão dolorosa que se instala como um tumor. Se eu não tivesse tantas ganas de amar, faria da vida um simples desenho e deixava que colorissem. Será que o amor é tão necessário ou é uma neblina a me cegar a definição, o contorno firme da ação. Se vou viver e tenho que amar, estou preso na minha não-solidão.