terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dança

Enquanto dava as três voltas em torno da árvore
Muitas folhas caíram ao meu próprio outono
Retorci a lembrança rarefeita do tempo findo
E, de repente, sem que pudesse evitar, raízes e cascas soltaram-se das minhas canelas.
Eram coisas assim, meio empoeiradas, quase invisíveis
Um farfalhar de nada no chão,
Qual enceradeira a embaralhar os dedos dos pés.

Depois, cessou o rodopio e ouvi um chistoso piar do alto
Um rouxinol a indagar por que tanto movimento
E a árvore parada a me negar, solene, a oportunidade da contradança

Atento ao vento que finalmente se espalhava
Entre rodopios de cima-baixo, direita-esquerda
Pedi que tantas pernas e braços se organizassem
Pra eu me achar naquele estranho reboleio
Pra eu me agarrar a um gesto qualquer
Que mesmo contorcido e um tanto controverso
Possa me dizer do ritmo e qual direção tomar,
Minimamente, mesmo a guisa de improvisação
(eu que não sei dançar, eu que não sei falar)
Finalmente, convidar tal jardim imenso pra dançar